Inovar ou continuar, eis
a questão...
Passado o Jogos Olímpicos Rio 2016,
maior evento esportivo do ano, nossa atenção voltou-se para o Mundial da
Juventude para atletas com até 18 anos, realizado em Podgorica, Montenegro. A
grande surpresa do campeonato pode ter sido a artilharia do atacante brasileiro
Rafael Vergara, que marcou 44 gols, mesmo a seleção brasileira tendo encerrado
sua participação com um jogo a menos que as equipes finalistas. Mas, o que mais
chamou a atenção do campeonato foram as novas regras incluídas pela FINA para
experimentação.
As novas regras testadas no torneio
foram: campo de 25 m de comprimento, equipes de 11 jogadores (seis na água e
cinco no banco), bola de tamanho feminino (size 4) e redução dos tempos
de posse de bola para 25 s e de exclusão temporária para 15 s.
O técnico Gyorgy Horkai da seleção
da Hungria (medalha de bronze) foi bem enfático ao declarar que “as novas
regras são boas para outro esporte”. Para ele essas mudanças alteraram a
essência do esporte, transformando o pólo aquático em outro esporte, como
quando comparamos o futebol de campo com o futsal: “o futsal é mais rápido,
pode até ser mais atrativo, mas não é o futebol de campo”.
O técnico da ex-campeã mundial da
juventude Hungria, Zoran Milenkovic, mesmo insatisfeito com a quinta colocação,
se mostrou favorável às mudanças, mas destacou que antes das mudanças é
necessário estudar. Destacou o maior espaço para os jogadores jogarem, visto a
redução para 5 jogadores de linha em campo, levando-os a mostrarem todas as
suas habilidades e capacidades físicas ao máximo. Para ele a redução do campo
para 25 m aumenta a quantidade de instalações que possam sediar os eventos de
pólo aquático. Porém a utilização da bola feminina aumenta o número de gols que
acaba aumentando o tempo de partida. A grande preocupação para ele é a redução
do número de jogadores que precisa ser mais estudada, visto que há uma
exigência física muito maior com esse tipo de jogo. “Quais as consequências
para a saúde dos atletas, principalmente esses mais jovens”?
Para o técnico vice-campeão Veljko
Uskokovic de Montenegro, “o que realmente importa é o que o espectador quer
ver. Há muitos gols, alguns
acharam até gols demais, mas é o
objetivo do esporte. O espectador pode ver novas jogadas em pouco tempo com o
campo de 25 m. “ Apesar disso, a bola de tamanho reduzido é muito pequena para
qualquer um, incluindo jogadores profissionais e 11 jogadores sendo 2 goleiros,
deixam poucas opções de defesa: “nós precisamos de mais jogadores”.
Para Josko Krekovic, técnico campeão
pela Croácia, “as novas regras falharam. “ Defender uma bola menor parece ser
mais difícil, e num jogo com muitas exclusões temporárias faltam opções de jogadores
para substituição. Apesar do campo de 25 m ter agradado, para jogadores
experientes essa piscina pode ser muito pequena.
Como já foi visto pela internet, “o
caos precede as grandes mudanças”, mas algumas dessas mudanças parecem ter sido
bem aceitas, como o campo reduzido e com isso a redução do tempo de posse de
bola. Realmente, estudos devem ser realizados visando os números tanto para os
espectadores quanto para a saúde dos atletas, como relatado pelo húngaro
Milenkovic. E talvez, segundo o campeão Krekovic, a solução para uma maior
visibilidade do nosso esporte esteja fora da piscina: “Nós precisamos melhorar
o show fora da água, ao redor da piscina, não o jogo”.
André Martorelli
Mestre em Educação Física pela UnB e
Professor Do Instituto Federal de Goías
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