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O Brasil e o polo aquático mundial

(Slobodan Soro)
Há anos o Potóff vem insistindo que não seria difícil colocar o Brasil entre os grandes do polo aquático mundial. A cada final de Campeonato Mundial, Liga Mundial ou Copa do Mundo, em que, invariavelmente, terminávamos no 3º ou 4º escalão (isso quando conseguíamos a vaga), reafirmávamos nossa opinião, que se sustentava em virtude do número bastante limitado de praticantes de polo aquático ao redor do planeta, o que tem como consequência o baixo nível de excelência do esporte e que, por sua vez, acaba acarretando na pouca renovação dos pódios.
Cansamos de argumentar que não seria uma tarefa das mais complicadas galgar degraus que nos levassem aos primeiros escalões do polo mundial, visto que os investimentos no esporte são irrisórios, mesmo em nível mundial, dada a baixa visibilidade do mesmo, o que viabilizava um projeto acessível para o Brasil. Insistíamos na idéia que, assim como aconteceu com o vôlei, o Brasil tinha condições de, num curto espaço de tempo, figurar entre as potências do polo mundial, bastava vontade política e planejamento. Sempre fomos contestados com argumentos que diziam que "num período de vinte anos nada iria mudar dentro do polo aquático mundial" ou então, "que se Sérvia, Croácia, Montenegro e Hungria entrassem com dois times nos campeonatos, as oito primeiras colocações já estariam definidas". Pois bem, a atual Seleção Brasileira Masculina, num curtíssimo espaço de tempo, veio nos dar razão. Essa equipe já faz parte do segundo escalão do pólo mundial, capaz de enfrentar de igual para igual e, eventualmente vencer, seleções como EUA, Austrália, Espanha, Grécia etc., ao mesmo tempo em que consegue fazer jogo contra Sérvia, Croácia, Montenegro e Hungria (e não apenas assistir, como acontecia há pouco tempo atrás). E qual foi a grande estratégia, o grande plano de ação posto em prática, que possibilitou essa mudança? Nada de muito complicado ou dispendioso, apenas algumas ações específicas, bem direcionadas, que elencamos a seguir.
1) Trazer atletas que estavam jogando na Europa e que, de alguma forma, tinham alguma identidade com o Brasil. Adrià Delgado e Paulo Salemi são bons exemplos. Experientes, com passagens pelas Ligas da Espanha, Itália e Hungria, os dois tem nacionalidade brasileira e, apesar de apresentarem um jogo bastante sólido, nunca foram convocados para as seleções da Espanha e Itália, respectivamente, ou seja, estavam disponíveis no mercado. (Uma pena que não houve acerto com Tony Azevedo e Pietro Figlioli, pois com mais esses dois na equipe, o Brasil brigaria pelo ouro nas Olimpíadas do Rio).
2) Estimular a participação de atletas brasileiros em ligas nacionais fortes, tal como acontece atualmente com Bernardo e Guilherme Gomes, que jogam na Espanha, ou Jonas Crivella, que nos últimos anos tem disputado a temporada australiana.
3) Trazer jogadores estrangeiros para as posições em que o Brasil é mais carente, notadamente, o centro e o gol. Prática, aliás, adotada por várias seleções de ponta da Europa, tais como Espanha, Itália, Montenegro, Romênia etc. (Embora Thyê e "Bin Laden" sejam atualmente os melhores goleiros do Brasil, nos jogos contra as equipes do primeiro escalão fica nítida a falta de mais vivência dos dois. Se a nacionalização de Slobodan Soro for confirmada, o Brasil vai crescer ainda mais).
4) Repatriar Felipe Perrone, um dos grandes jogadores da atualidade e que, por falta de um projeto vencedor por parte da Seleção Brasileira, tinha optado por jogar pela Espanha.
5) Contratar um técnico de ponta, que pudesse elevar o nível do polo aquático brasileiro no contato direto não apenas com os jogadores, mas também com os nossos técnicos.
Nenhuma dessas medidas listadas acima é um bicho de sete cabeças, ou requer investimentos astronômicos, bastava planejar e se livrar do corporativismo que sempre puxou o polo brasileiro para o fundo da piscina. Bendita hora em que o COB assumiu a liderança do projeto olímpico do polo brasileiro, rompendo com certas atitudes que prefiriam a acomadação, em nome da manutenção do status quo.
Em pouco tempo o Brasil conseguiu o maior resultado de sua história, o que já rendeu frutos em termos de mídia e divulgação. Nunca o polo brasileiro frequentou tão assiduamente a primeira página dos sites esportivos como nessa última semana. O brasileiro é um povo que adora esporte, mas adora, também, vencer, ninguém está interessado numa seleção que termina em 13º num campeonato com 16 equipes. Agora, com a lapidação desse trabalho até as Olimpíadas, temos chance de reverter tudo isso, pois essa é, sem dúvida, a melhor Seleção Brasileira de todos os tempos. Só esperamos que as conquistas que venham a ser alcançadas até o ano que vem, não sejam desperdiçadas no período pós-Olimpíadas.

Comentários

  1. Prezado Clodoaldo, sem querer polemizar, suas colocações estão ótimas, exceto alguns dados que deven ter chegado a você de forma destorcida. O COB em momento algum esteve ou está a frente de nosso Projeto. O polo aquático da CBDA, hoje, dispões de mais recursos que vem do COB, através da Lei Piva, dos Correios, da Lei de Incentivo e do SICONV. Todos os recursos são destinados após a aprovação de Projetos enviados pela Confederação. A Elaboração do Planejamento Estratégico que inclui algumas ações que você relacionou, existem outras mais, como a participação em programas de intercâmbio, tornar a seleção mais profissional financeiramente, aquisição de Recursos tecnológicos, aquisição de material de treinamento, ter um Centro de Treinamento, entre elas, é de exclusividade da CBDA. Quem propõe as metas a serem atingidas e controla as ações é a Confederação. O COB assim como os Correios e o Ministério dos Esportes são nossos GRANDES parceiros, e liberam recursos por acreditarem no nosso trabalho. O COB tem uma participação muito significativa porque apoiou e deu suporte financeiro para trazermos para o Brasil o melhor técnico do Mundo, o Ratko Rudic, que aliás, muitos achavam que estava ultrapassado e que viria para o Brasil tirar férias. Muitos, influenciaram, na decisão de trazerem antes técnicos não renomados e que já se sabia de ante mão que não tinha perfil adequados e "cacife"para levar a frente um Projeto. Quanto aos investimentos astronomicos, eles podem não ser se comporados à outras modalidades, mas o que conseguimos, agora, há dois anos atrás, época que esboçamos nosso planejamento, é pelo menos três vezes superior ao que sempre tivemos. O polo aquático, apresentou seu planejamento estratégico ao COB, logo após os Jogos Olímpicos de Londres. Perdemos tempo em algumas apostas erradas, e esbarramos em algum momento no atraso de repasse de verbas. Mas continuamos focados no que queríamos e os resultados começam a aparecer. Esperamos que, mesmo não sendo de agrado de muitos que estejamos à frente e que mesmo que os devidos créditos não sejam dados, que a comunidade do polo aquático brasileiro acredite, participe e torça para o sucesso nos Jogos de 2016. E que o COB, Ministério dos Esportes e os Correios, continuam aprovando nossos Projetos.
    Ricardo Cabral
    Gerente de Polo Aquático da CBDA

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    Respostas
    1. Cabral, mais uma vez, obrigado pelo diálogo. Rumo ao ouro no Pan e a ficar entre os oito primeiros no Mundial de Kazan!

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  2. Clodoaldo, mais uma vez vc acertou. Uma de nossas metas esse ano é ficarmos entre os 08 em Kazan e o ouro no Pan. Outra passamos com sobra que era ficarmos entre os 06 na Super Final. Temos, ainda, ser Campeão em Kigston e entre os 08 em Almathy. Se conseguirmos isso tudo fechamos o ano dentro das expectativas. Temos chance!
    Abraços
    Ricardo Cabral

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  3. Bem, o caminho está traçado. O planejamento está sendo cumprido. Mas o maior problema é: Vai ser mantido depois da Olimpíada? Sabemos muito bem que projetos Olímpicos visam única e exclusivamente o evento. Mas, na minha modesta opinião, o mais importante é a manutenção com a consequente evolução dos atletas e da modalidade. Ressuscitar o pólo no RJ e faze-lo evoluir em outras regiões de forma que no futuro não precisemos nacionalizar ninguém. Material humano nós temos espalhados por esse país. Faltava esse combustível que são conquistas e vitórias. Agora cabe aos responsáveis pela administração do pólo brasileiro aproveitar e mergulhar de cabeça no desenvolvimento da modalidade a nível nacional.

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