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Comparação polo aquático x esportes coletivos

Wigo em foto do waterpoloplanet.com
Recebemos do Ricardo Perrone, ex-jogador da Seleção Brasileira e pai do "Kiko" e do Felipe, uma cópia do artigo do Wolf Wigo, ex-atleta da seleção norte-americana e, atualmente, treinador do time masculino da UC Santa Barbara, publicado no site waterpoloplanet. No artigo (clique aqui para ler), Wigo apresenta um quadro comparativo do polo aquático com outros esportes coletivos que utilizam bola (ou similar) e cujo objetivo é marcar gols (ou similar) - futebol, basquete, hóquei no gelo e lacrosse.
Wigo define um esporte bem sucedido a partir de três características: 1. a universalidade do jogo (popularidade e interesse globais e o crescimento na base); 2. patrocínio significativo de empresas; 3. cobertura significativa da mídia, que promova os astros e estimule a prática. Depois, ele enumera os princípios fundamentais presentes nesses esportes de bola/gol, que fazem com que eles sejam bem sucedidos e o polo aquático não. Basicamente seriam: mínima interferência dos árbitros no controle do jogo; o fácil entendimento das regras pelo público; o fato das regras serem feitas para serem cumpridas e não violadas; o respeito ao "espírito do jogo" pelos atletas (que poderíamos resumir como a prática do fair play); e o fato deles poderem ser jogados mesmo na ausência de árbitros. A partir daí, Wigo passa a utilizar certos dados estatísticos tais como, o tempo de transição da defesa para o ataque, o número de faltas cometidas, o grau de compreensão do grande público etc., com o intuito de focar sua análise na necessidade de mudanças na regra, para que o polo aquático possa atingir todo o seu potencial de público e de mercado. É um artigo interessante, até pelo fato de levantar tal discussão, coisa que a comunidade aquapolista mundial deveria fazer com mais frequência, porém, cabem algumas ressalvas.
Em primeiro lugar, temos que destacar um aspecto cultural da sociedade norte-americana, que tem uma certa dificuldade em assimilar formas e conteúdos estrangeiros, aspecto esse que se manifesta não só no esporte (a transformação do rugbi em futebol americano, por exemplo), como nas artes (Hollywood está sempre adaptando filmes estrangeiros para o gosto do americano médio). Dentro da cultura esportiva norte-americana, por exemplo, não há espaço para empates. Portanto, essa questão cultural tem que ser levada em conta nas análises de Wigo, que costuma superdimensionar certos fatos e subjetivar excessivamente outros (como a questão dos princípios fundamentais, por exemplo).
Na análise comparativa, Wigo dá muita ênfase a dados tais como o tempo de transição, o número de faltas, a média de intervalo de tempo entre uma falta e outra, a quantidade de passes trocados no ataque etc. Porém, é sintomático que Wigo não utilize como comparação o futebol americano, esporte coletivo que carrega muitas das características "negativas" que ele aponta no andamento de uma partida de polo, tais como: uma transição lenta, o excessivo número de faltas, o fato do jogo passar muito tempo parado, a participação limitada dos atletas no contato com a bola, além das regras não serem totalmente claras para o grande público (os árbitros, no futebol americano, carregam microfones e explicam, pausada e detalhadamente, cada marcação) etc.  Mas, mesmo assim, o futebol americano é um sucesso estrondoso nos EUA.
Talvez, mais do que nas regras, o maior problema do polo aquático mundial hoje em dia, esteja na maneira de administrar, organizar, promover e desenvolver o jogo. Uma visão um pouco menos conservadora do polo enquanto um produto esportivo, traria efeitos maiores e mais rápidos do que simples mudanças na regra. A utilização de iluminação subaquática para demarcar as áreas de jogo é um bom exemplo. Acreditamos que medidas nessa direção são o caminho a ser seguido para alavancar a visibilidade e o nível de compreensão do polo, porém, tais procedimentos são sempre conduzidos de forma tímida e lenta.
No que diz respeito especificamente as mudanças na regra, já tivemos a oportunidade de ler outros artigos de Wigo em que ele expõe algumas de suas propostas e, uma das principais, que ele inclusive aplica nos coletivos na UC Santa Barbara, é a do jogador de posse da bola não poder ser tocado (como no basquete). Outra proposta defendida por ele é a estipulação de um limite de faltas, a partir do qual seria cobrado um tiro livre dos 5 metros. Particularmente, tememos que a adoção de tais regras descaracterize demais o jogo. O polo aquático é um dos poucos esportes coletivos em que o homem atua fora do seu meio natural e as dificuldades decorrentes desse fato não podem ser eliminadas, é um pressuposto do jogo. A questão não é transformar o polo no "novo" futebol, no "novo" basquete, ou no "novo" rugbi, mas consolidar o esporte em seu próprio nicho, aproveitando - e adaptando - as experiências bem sucedidas dos outros esportes.
De qualquer forma, aconselhamos a leitura do artigo de Wigo que, justiça seja feita, levanta muitas outras questões que não abordamos aqui. E, claro, estamos abertos a outras análises e ideias.

Comentários

  1. Clodoaldo
    Algumas idéias colocadas pelo Wigo, já são conhecidas e reforçam a idéia de seu pai Bruce Wigo, quando era diretor da USAwaterpolo. A questão princincipal, na verdade, é a busca de uma fórmula que crie novas estratégias de marketing para a modalidade, sem que a mesma perca sua identidade, preservando a natureza do jogo. Questões sobre o entendimento da regra, aplicação da mesma sem " a interpretação do árbitro", o dinamismo do jogo ( muito lento para os padrõrs da televisão, entre outras coisas que já debatemos várias vezes.
    Concordo que o americano, nesse ponto, gosta de "transformar" , na verdade "adaptar" os esportes à sua cultura esportiva ( Team sports). O Futebol ( que nasceu do Rugby) e o Baseball ( que nasceu do criquete) são exemplos,ficando, apenas o Basketball, sua invenção já criada dentro de suas características dinâmicas. Existem alguns pontos antagônicos, como o baseball que é considerado o mais individual dos esportes coletivos, onde tudo gira em torno do batedor e do arremessador e os jogos duram 03 horas e média. Entretanto o ameriano e a TV adora isso. O Futebol que faz com que os jogadores sejam os guerreiros comtemporâneo, com suas vestimentas, protetores e lances prá lá de " violentos". O Baskete pelo seu dinamismo deixa o público ligado a todo momento. As quadra de Basketball e o campo de polo tem praticamente as mesmas dimensões. Entretanto correr é bem mais rápido.
    Para quem quer se aprofundar um pouco nas discussões que envolvem o esporte contemporâneo, rotulado de esporte-espetáculo, sugiro uma literatura bem interessante de um autor americano Jay Cooklay, intitulada Sports in Socyet, onde ele aborda a questão dos diferentes mundos sociais esportivos da qual fazem parte a cultura esportiva, as interações sociais e a forma como ele é organizado.
    Nesse sentido, me sinto na obrigação de passar para os envolvidos e comprometidos com o polo, o que acabo de ver em Long Beach, Irvine, Huntington Beach e Los Alamitos, durante os dias que estive lá acompanhando a Liga Feminina.
    A USA waterpolo, fêz os jogos da Liga em sua maioria em colégios (high school), em instalações espetaculares ( piscinas, placares eletrônicos, estruturas temporárias e fixas), com a presença de alunos praticantes de polo das escolas. Em Irvine, estava acontecendo as finais do sub-15 feminino, em dois campos com os pais ( sim, o público lá também é de parentes e jogadores,numa estrutura de dar inveja. Assim foi em outros locais. O mais interessante é que a USA water polo, não tem nada a ver com a organização direta das competições. São ligas escolares, organizadas pelas escolas, cobrando ingresso, com atletas vendendo cachorro quente,atletas montando e desmontando campo ( inclusive as de seleções). É isso que o Coakley chama de mundo sociais esportivos.
    Acho e já escrevi, que a FINA tem uma missão bem complicada de adaptar o esporte a uma exigência de mercado sem perder a característica e natureza do jogo.
    Enquanto isso não acontece,nós que gostamos do polo aquático vamos cuidando, cada um ao seu modo, para que ele não morra.
    PS: Não vai morrer porque em todo mundo é um esporte de família, na qual o gosto pela pratica vai passando de gerações em gerações. Pode não aumentar o público, mas garanto que não acaba.
    Ricardo Cabral

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  2. Cabral,
    Só acho q a adaptação do polo às exigências do mercado, ñ precisa ter (pelo menos num primeiro momento) a meta de transformar o polo em um esporte tão popular e lucrativo como o futebol, o basquete ou o rugbi. Acho q, primeiramente, a FINA deveria se preocupar em consolidar o polo como um produto de qualidade dentro do seu próprio nicho (obviamente, tendo sempre no horizonte uma perspectiva de crescimento), tentando atrair o público q orbita em torno do polo incidentalmente mas q, por motivos diversos, acaba se dispersando, ñ chegando a formar um público consumidor significativo. Nesse aspecto, ñ vejo o conjunto das regras como o maior problema, e sim o tratamento q é dado ao polo de uma maneira geral. Pego como exemplo o Festival Haba Waba, q a cada ano vê crescer o número de participantes do mundo todo. É um evento super bem organizado, num local atraente, com um ótimo material de divulgação, aonde os participantes "respiram" polo aquático o tempo todo, mas "diluído" em diversos aspectos ( competição, socialização, diversão, história etc.).
    Agora, se nos níveis acima a realidade é completamente diferente, ñ acompanhando esse padrão, a tendência é q esse público q é cativado nesse processo de formação (pais e crianças), volte seus interesses para outras coisas.
    Outro aspecto importantíssimo hj em dia, é a questão do acesso a eventos e informações à distância, tb muito pouco explorado pelo polo. Mas isso fica para uma outra conversa.
    Abs.

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  3. Clodoaldo
    Concordo. Quando falo em mercado me refiro inicialmente ao nosso ambiente operacioanal. Não conseguimos, ainda, num primeiro momento atrair os que estão mais próximos do nosso. Mercado lucrativo ainda é uma utopia. Com toda a organização e proposta do Haba, só quem conhece o Haba é o polo aquático. Mesmo assim, nem todos.

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