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Mundial 94: advogado do diabo

Antes de mais nada, para evitar qualquer mal-entendido, queremos parabenizar os atletas e as comissões técnicas das Seleções Masculina e Feminina 94, pelos belos resultados alcançados em Perth, na Austrália. Várias vezes aqui no Potóff, destacamos a qualidade dessa geração (93/96), assim como enaltecemos o trabalho dos treinadores. Porém, mais uma vez, no nosso intuito de colaborar efetivamente para o crescimento do polo aquático no Brasil, vamos fazer o papel de "advogado do diabo", isto é, vamos tentar trazer à discussão o que tais resultados representam em termos de uma evolução técnica e de uma mudança de postura no polo aquático brasileiro. Que se tratou de um belo resultado em nível pessoal (tanto dos atletas, como das comissões técnicas) isso não se discute, mas até que ponto esse resultado refletiu uma evolução técnica e de preparação?
Para começar, vamos lembrar o óbvio. O que se espera quando a FINA organiza campeonatos de faixa etária mais baixa, é um aumento natural do equilíbrio dos jogos. Quanto mais novas as equipes, menor a diferença técnica entre elas. Se, por exemplo, a FINA organizasse um campeonato sub-10, é provável que Hungria, Itália e os países dos Bálcãs continuassem dominando as primeiras posições, mas, com certeza, os jogos seriam mais equilibrados do que no Adulto.
Posto isso, vamos dar uma olhada na campanha do time Masculino. O Brasil terminou na 9ª colocação, uma boa colocação, sem dúvida, mas se analisarmos as equipes que terminaram acima e abaixo do Brasil, veremos que não houve nenhuma surpresa, isto é, o Brasil terminou à frente das equipes que, normalmente, esperamos superar, e abaixo das equipes que, nos últimos anos, têm frequentemente nos superado. Itália, Hungria, Sérvia, Croácia, Grécia, Romênia, Austrália e EUA terminaram à nossa frente, enquanto Nova Zelândia, Canadá, Irã, Uzbequistão, Egito, Colômbia, Cazaquistão, África do Sul, Trinidad & Tobago e Peru terminaram abaixo da Seleção Brasileira. Nesse aspecto, nenhuma novidade, nenhuma evolução. Vale lembrar, também, que esse Mundial 94 foi disputado por apenas 19 equipes, enquanto os Mundiais Júnior da FINA costumavam ser disputados por 24 seleções. Quer dizer, seguindo a lógica apresentada pelas equipes acima e abaixo do Brasil, num Mundial com 24 seleções o Brasil teria disputado entre 11º e 12º lugar, o que não fugiria muito das campanhas anteriores. Talvez, no Masculino, a situação que melhor nos ajude a avaliar uma possível evolução técnica e de preparação, seja o confronto contra os EUA. Em agosto de 2011, durante o Pan 94, derrotamos por duas vezes a seleção norte-americana (8 x 7 na 1ª fase e 6 x 4 na final), já no Mundial, fomos derrotados por 19 x 11, numa partida que ao final do 2º quarto já se encontrava decidida (9 x 3). Qual a razão desses resultados? O que mudou de 2011 para 2012? Um aspecto que tem que ser levado em conta é, claro, a ausência de Gustavo "Grummy" Guimarães no Mundial. É inegável que o talento e a experiência de "Grummy" fizeram muita falta, afinal, na Seleção Adulta, ele já disputou  Mundial, Pan-Americano e Pré-Olímpico. Mas será que só a ausência do "Grummy" explica essa diferença entre o Pan 94 e o Mundial 94? Acreditamos que não. E recorremos a uma pergunta simples: qual foi a preparação da Seleção Brasileira para esse Mundial 94? Aquele padrão de "meia-dúzia" de treinos no Rio e em São Paulo, 20 dias antes da competição, foi alterado? Infelizmente, não. O Brasil viajou com antecedência e disputou algum torneio preparatório como forma de adaptação? Novamente, a resposta é negativa. Mais uma vez nossa Seleção realizou um curto período de treinamento, chegou em cima da hora na competição e contou apenas com a dedicação de atletas e comissão técnica para superar as dificuldades. Acreditamos que aí reside a principal causa da diferença apresentada por Brasil e EUA no período de um ano.
Quanto a Seleção Feminina, as observações acima sobre treinamento e preparação podem ser repetidas por inteiro. O 8º lugar foi bom? Sim, foi ótimo, mas foi muito mais fruto de uma boa dose de sorte no chaveamento (não apenas do grupo do Brasil, mas também em relação ao grupo A, contra o qual a Seleção Brasileira cruzou nas oitavas) e a ausência da Espanha. O Brasil terminou o Mundial com campanha negativa (2 vitórias - Nova Zelândia e Uzbequistão -, 1 empate - Canadá - e 3 derrotas - Grécia, Nova Zelândia e Austrália), sem contar que apenas uma atleta (Izabella Chiappini) fez praticamente a metade dos gols da equipe (32/66).
Mais uma vez, reiteramos nossos parabéns aos atletas e as comissões técnicas pelas honrosas colocações, mas as observações acima, ao contrário de querer diminuir essas conquistas, querem apenas colocar as coisas no seu devido lugar, para não taparmos o sol com a peneira. Já cansamos de ver ótimas Seleções, elogiadas internacionalmente por seus potenciais, ficarem apenas na promessa.
Para encerrar e ilustrar esse artigo, reproduzimos abaixo dois gráficos elaborados e enviados pelo "Kiko" Perrone, com os levantamentos das Seleções Brasileiras nos últimos 25 anos. Com certeza, o que se observa não é uma curva ascendente (no Masculino, o ranking olímpico foi elaborado a partir da colocação do Brasil nos torneios Pré-Olimpicos, somado ao número de participantes das Olimpíadas).






"In God we trust; all others must bring data."

Edwards Deming

Comentários

  1. Incrível análise!! E concordo, nada está sendo efetivamente feito para melhorar o polo aquático no Brasil!

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  2. Clodoaldo,

    Você levantou algumas qustões interesantes e acho que merecem serem discutidas e analisadas por diferentes óticas. Começo por perguntar a você quais são as 6 principais equipes do polo aquatico mundial? A resposta sabemos de cor e salteado: Hungria, Croacia, Servia, Montenegro, Italia, Espanha,. Não importa a ordem, é só jogá-las para o alto e a ordem em que cairem estará de bom tamanho. Basta acompanhar os resultados dos eventos internacionais durante a última década. Até aí tudo bem e acredito que
    estejamos de acordo nesse raciocínio.
    A segunda pergunta é: Quais são as seis seguintes melhores equipes do polo aquatico mundial? Pode ser que sua resposta, agora, seja diferente da minha. A minha seguramente é: Hungria B, Croácia B, Servia B, Itália B, Espanha B. Mais uma vez joga para cima e a ordem que cair está de bom tamanho.
    E as outras? As outras meu amigo, são as outras e, sinceramente, nos próximos 20 anos não vejo muita possibilidade de mudança nesse quadro. Pontualmente, podem aparecer em função de não se permitir disputa com equipes B, a Romenia (em bom desenvolvimento), a Austrália, os EUA, a Alemanha que as vezes, por uma “sorte”na
    confecção das chaves (como dizia um ex-técnico meu que sem “sorte” não chegamos nem na esquina) podem aparecer melhor na parte de cima. O Brasil o Canadá, o Kazaquistão, e outros mais, dependem, também, dessa “sorte”e e claro de um pouco de potencial esportivo.
    O que quero dizer com isso é que qualquer quadro comparativo onde constem do mesmo as equipes de ponta e que busque mostrar evolução ou não do polo aquatico, fundamentado em aspectos quantitativos de classificação final, fatalmente vai mostrar que o mundo dos não desenvolvidos no polo não evoluiu ou evoluiu muito pouco se
    comparado aos principais.
    Estando presente no Mundial e acompanhando essas Seleções em competições Pan-Americanas, posso garantir que no aspecto qualitativo estamos evoluindo bem. Já observa-se jogadores com mais qualidade técnica, principalmente, numa de nossas maiores carências e que decide o jogo que é o chute. Muito bom ver também uma melhora
    significativa no aspect físico ( ainda abaixo do que podemos ter). Muito bom também ver uma mudança de atitude em relação aos adversários e muito bom também termos tido a sorte de cairmos numa chave boa. Que tenhamos mais sorte, ainda nas próximas!. Se outros tem porque não o Brasil? Uma vez assistindo uma dessas palestras
    motivacionais, o palestarnte perguntou porque quando se pega caranguejos, os colocam num balde sem tampa. A resposta foi simples. Porque quando um tenta subir os outros puxam pelas presas. Acho que o polo aquatico brasileiro está cheio de caranguejos! Não é o seu caso, caro Clodoaldo, mas que tem muita gente que faz questão de colocar para baixo, isso tem.
    Contra os EUA jogamos mal no início do jogo quando o Guilherme marcador de centro saiu com duas faltas e aí, sim o Grummy fez uma falta, pois demoramos muito para rearrumar a defesa. Mesmo assim, tivemos a capacidade de correr atrás do resultado e fizemos 11 gols o que venhamos e convenhamos não é uma tarefa fácil.
    (continua abaixo)

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    Respostas
    1. Ah! Como queria ter mais Izabelas, mais Grummys para desequilibrar jogos como outros países já tiveram Tony Azevedos, Vargas, Filipovics e outros mais. Quando perdemos para o Canadá o país se mostra para os brasileiros como um modelo a ser seguido na busca de uma posição mundial. Quando vencemos os mesmos de forma consecutiva em divisões de base, não fazemos mais do que nossa obrigação.
      Ainda em Perth, enviei um e-mail zangado para a nossa assessoria de imprensa, que postou a seguinte notícia no site da CBDA: Brasil fora da disputa por medalhas. Perguntei porque ao invés de escrever dessa forma não foi escrito: O Brasil avança para ficar no TOP 10 do Polo aquatic Mundial Junior. Se não valorizarmos nossas conquistas, mesmo que, ainda, modestas, ninguém mais vai valorizar.
      Agora vou fazer algumas considerações que talvez muitos dos que estão lendo estejam pensando que vou deixar de emitir minha opinião. Refere-se à questão da preparação.
      Antes de começar precisamos entender que existem mundos sociais esportivos diferentes que interagem e se organizam de forma diferente, o que faz com que se crie uma cultura esportiva própria. A FINA (bem intencionada) ao passar a organizar competições mundiais em duas categorias (youth e junior) não levou em consideração o impacto financeiro que teriam as Federações Internacionais que tem como cultura esportiva custear 100% dos custos de viagem dos atletas, caso específico do Brasil e de alguns poucos (os Europeus fazem isso mas gastam menos para rodar na Europa do que ir do rio a São Paulo! A Espanha não foi por falta de verba!). De uma hora para outra passamos a ter 02 sul-americanos, 02 pan-americanos e 02 mundiais).
      Mesmo com mais recursos captados, o que estamos conseguindo por mostrar capacidade de apresentar projetos , fica praticamente, inviável manter uma programação de treinos nacionais, treinos internacionais e viagens internacionais oficiais, custeando da mesma forma, ainda, as Seleções de adulto.
      Para quem não sabe, os EUA, Canadá, Nova Zelandia, Austrália ( sempre faz) e muitos outros, participam das competições e viagens de treinamento com 100% dos recursos financiados pelos atletas (pais).
      Essa Seleção (a base) esse ano participou de 01 Pan-Americano em Agosto ( Montreal) e de um Estágio na Espanha logo depois do Pan-Americano. Como esse ano foi atípico,
      pois o Mundial foi realizado em Dezembro, os principais clubes do Brasil por estarem envolvidos na Liga Nacional, não liberaram seus jogadores para os treinos.
      Particularmente, acho que a Liga foi uma boa preparação para dar ritmo de jogo para essa garotada..
      Algumas ações para tentar minimizar esse problema para os próximos anos, já que praticamente os recursos financeiros deverão estar voltadas para a Seleção Olímpica, serão adotadas. Uma delas já em andamento para 2013, que prevê no Projeto apresentado ao Ministério dos Esportes para a Super Liga Nacional, a participação de uma Seleção de Jovens Talentos 2016, como a oitava equipe da competição, onde todos os custos de deslocamentos e hotel serão custeados pela CBDA. Soma-se ao fato que para cada Sábado
      jogado, a equipe permanecerá no local para fazer um treino no Domingo, se possível contando com a colaboração das equipes enviando seus principais jogadores.
      Sei de antemão que teremos opiniões favoráveis e desfavoráveis, mas seguramente sera uma forma de “acelerar”e monitorar essa nova geração nos próximos anos. É claro que na medida do possível, teremos treinamentos internacionais e nacionais e continuaremos, como sempre, participando de todos os eventos oficiais internacionais.

      Att
      Ricardo Cabral
      Gerente Nacional de Polo Aquático CBDA

      Excluir
  3. Cabral

    A idéia de formar uma seleção de talentos 2016 e ela disputar uma super Liga Nacional como a 8ª equipe é muito boa, mas como será feita uma convocação para essa seleção se as equipes que participam da Liga dependem desses jogadores convocados?

    Guerino Manfrini

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  4. Clodoaldo,
    a vida é um eterno aprendizado. e em uma partida neste mundial, onde nada estava dando certo e eu vi a vitória escapando de nossas mãos.
    Um Juiz chegou a mim e me disse baixinho: técnico,calma elas são muito jovens!!!!!Independente se foi negativa ou não a participação das duas equipes neste mundial, pergunte a eles e elas o que significou estas conquistas..
    abs.
    Canetti

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    Respostas
    1. Caro Canetti,
      Ñ avalio as participações das Seleções Brasileiras como negativas, pelo contrário, achei ambas positivas. As minhas colocações apenas tentam contextualizar essas participações. Foi dito q a 8ª colocação do Feminino e a 9ª do Masculino apontavam para uma evolução técnica. Eu apenas quis mostrar q essas colocações, se forem devidamente contextualizadas, se encaixam no desempenho geral q o Brasil vem apresentando nos últimos 25 anos. Tanto a Seleção Feminina, qto a Masculina, já conseguiram, no passado, colocações iguais ou melhores do q essas, e isso ñ resultou em nenhum avanço efetivo do polo brasileiro.
      Abs.

      Excluir
  5. Guerino
    Como a equipe não estará concorrendo a premiação ( é apenas terinamento) qquando jogarem contra qualquer equipe, os jogadores convocados que pertencem a essa equipe jogariam pelo Brasil. Com a vinda, agora natural de estrangeiros nossos jogadores estariam treinando durante 03 meses e meio o tempo de duração da Liga. O mais importante é que foi colocado em Projeto e existe a possibilidade de 100% de aprovação o que garante a verba para isso. Depois vamos acertar alguns detalhes juntamente aos clubes e as Comissões Técnicas do Junior, Adulto, o Técnico Mirko e o Sup Técnico Carlos Carvalho
    Att
    Ricardo Cabral

    ResponderExcluir
  6. Cabral

    Obrigado pela resposta e considero a idéia muito boa, desde que não atrapalhe as equipes participantes da Liga.
    Abraços

    Guerino Manfrini

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