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Artigo de Kiko Perrone

Clodoaldo,

Acho muito valida a discussão sobre a evolução do pólo aquático, mas gostaria de propor um novo tema: Por que o Brasil ainda não é uma potência no pólo aquático? E, o que podemos fazer para que o Brasil evolua mais rápido do que os seus concorrentes?
Abaixo segue a minha opinião sobre os fatores chave para a formação dos atletas e uma comparação (também baseada nas minhas observações e conversas durante meu período fora do país) entre o Brasil e as principais potências do esporte.


Diferenças entre os atletas brasileiros e os adversários (masculino)



Masculino








Qualidade e quantidade no treinamento e em competições

Apesar do atleta brasileiro dedicar tempo similar para competições e treinamento com a seleção nacional (23% a 25%), o tempo dedicado à competições no Brasil não passa da metade se comparado aos países de ponta (25% contra 55% do tempo). Alem disso, as ferias dos atletas brasileiros são quase 3 vezes maiores que a do europeu (13 contra 5 semanas).




Neste contexto, percebe-se na Europa a grande importância dos Clubes na manutenção de atletas com o volume de competições que permite a evolução dos mesmos e, consequentemente, da seleção nacional.
O que fazer? Aumentar a duração da liga ou criar uma seleção permanente? Na minha opinião, deveríamos fazer os dois. Esticar ao máximo a Liga nacional e criar uma seleção permanente em que os atletas (incluindo os juvenis e juniores) treinariam durante todo o ano (em seus respectivos Estados) na parte da manhã ou na hora do almoço, sendo liberados para os treinamentos nos clubes durante a noite.
Gostaria de terminar com uma lista dos pontos fortes e oportunidades que vejo na CBDA e no pólo aquático Brasileiro:


CBDA 

1. Relacionamento com grande número de clubes
2. Experiência na obtenção de recursos através da Lei de incentivo ao esporte e Sincov
3. Capacidade de captação de recursos superior à maioria das federações estrangeiras concorrentes
4. Patrocínio dos Correios.
5. Parceria com a Sportv
6. Experiência na organização de torneios nacionais e internacionais
7. Melhores resultados nas categorias inferiores (atual campeão pan-americano júnior e juvenil)
8. Contratação recente de um técnico estrangeiro de alto nível
9. Participação em todas as competições internacionais
10. Possibilidade de utilização das infraestruturas disponibilizadas para natação
11. Boa relação com clubes e entidades que cedem suas instalações para o treinamento da seleção e realização de jogos
12. Investimento em novas tecnologias (Dartfish), ainda que subutilizada
13. Potencial de representatividade e influência nos órgãos internacionais (FINA), ainda pouco explorado


Pólo Aquático brasileiro

14. Realização dos Jogo Olímpicos no Brasil – Rio 2016
15. Muitos atletas talentosos e apaixonados pelo esporte
16. Melhora na remuneração dos atletas pelos clubes e recursos disponibilizados pelo bolsa atleta.
17. Técnicos motivados que investem no seu próprio desenvolvimento profissional
18. Técnicos que trabalham como captadores de recursos para os seus clubes
19. Árbitros com experiência internacional.
20. O movimento máster que cresce a cada ano.
21. Possibilidade de captação de recursos através de Ex-atletas/atletas másters em cargos de liderança de grandes empresas.
22. Existem 11 milhões de pessoas praticando natação no Brasil. Possibilidade de atrair parte dessas pessoas, oferecendo iniciação aos esportes aquáticos
23. Possibilidade de parceria com os projetos sociais que já funcionam (Oficina na Piscina/Bauru/Sesi/Rocinha) e atendem a mais de 3.000 crianças
24. Possibilidade de crescimento da Liga de segunda divisão, levando o pólo aquático para os demais Estados do país.
25. Surgimento de campeonatos de pólo aquático no mar e nas lagoas (Chapada, Salvador, Lagoa do Rosa, etc...)
26. Participação de clubes de futebol, com grande poder de atração de mídia, nos campeonatos de pólo aquático.
27. A existência de clubes como o SESI, Fluminense e Pinheiros, com recursos financeiros e vontade de investir no esporte.


Comentários

  1. Kiko
    Muito boas colocações. Aliás, já havíamos conversado sobre isso eu, você, o Techima e o Claudio no Flamengo. Acho que você foi "muito comedido"e listou, apenas, os pontos fortes e as oportunidades. Temos, também, os pontos fracos e as ameaças que podem vir em decorrência de um mal planejamento estratégico para 2016. Não podemos errar! A chance é essa!
    Sempre vi o polo aquático brasileiro, fazendo uma pequena analogia, como aqueles jogos de dados, que quando lançados, dependendo do número,avançamos algumas casas no tabuleiro, mas também que numa jogada errada voltamos algumas casas e por aí vai. Temos que andar, agora, só para frente e temos que acreditar nisso.
    Entretanto, o mais importante é que todos os segmentos envolvidos tenham a consciência de que mais do que nunca, o polo aquático tem que estar unido. As divergências e discussões vão sempre existir. Para os que me conhecem, sabem que tenho a plena certeza do que deve e pode ser melhorado. Avançamos, sim, algumas casas no "jogo de tabuleiro"e não podemos jogar o dado errado. Como você listou bem, as oportunidades estão surgindo e devemos estar preparados para agarra-las como se diz, "com unhas e dentes"se preciso.
    Você e seu irmão mostraram ao Brasil que é possível se correr atrás de um objetivo, não um sonho, já que era algo que poderia ser concreto.
    Torço para que outras pessoas entrem nesse "forum de discussões virtual"com sugestões, críticas, e porque não algum elogio. Afinal, muitas coisas já estão dando certo apesar do caminho ser muito longo.
    Boa sorte e boas festas para você e sua família
    Ricardo Cabral
    Gerente Geral de Polo Aquático CBDA

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  2. Excelente artigo. Um raio-x bastante objetivo do polo aquático brasileiro, tendo como parâmetro (e isso é fundamental) os países que mais se destacam na modalidade. Concordo q a solução perfeita seria investir nos dois segmentos (clubes e seleção permanente), porém, na minha opinião, existem fatores estruturais e subjetivos q devem ser levados em consideração. O fator estrutural é com relação aos clubes. O Brasil ñ tem, nem nunca teve, uma política esportiva definida. Tradicionalmente, os clubes são as células do esporte no Brasil e o q se observa, já há algum tempo, é q o esporte de competição é um fardo para os clubes, ñ tendo nem sequer a função de chamariz para atrair novos sócios. Todos sabemos das dificuldades q os departamentos de polo aquático têm q enfrentar para manter a modalidade ativa nos clubes sociais (como vc pontuou, Fluminense e Pinheiros são exceções nesse quadro). A esperança é de q projetos como Bauru, SESI, Oficina na Piscina, Rocinha etc., mudem esse quadro, mas isso requer tempo. Já o fator subjetivo ao qual me referi, está relacionado aos atletas. O polo aquático ñ é encarado pelos atletas brasileiros como uma alternativa de vida concreta. Mesmo aqueles q conseguem uma boa remuneração, no nível de times médios e de ponta europeus, encaram isso como uma coisa passageira, e ñ um projeto de vida no qual valha a pena investir (mais uma vez, existem algumas poucas exceções). Ñ consigo imaginar atletas treinando na hora do almoço e à noite nos clubes (alguns, das divisões de base, quem sabe. Já q a participação em seleções de base confere status aos adolescentes em seu meio social, além do q, as viagens para competir no exterior são um grde fetiche para essa faixa etária).
    O reflexo dessas duas questões q coloquei, pôde ser notado nas duas últimas Ligas Nacionais, q tiveram uma duração maior. Essa maior duração ñ representou nenhum ganho técnico nas partidas, uma vez q ñ houve um aumento da carga de treinos. Chamo atenção para esse fato, pois, na maioria das vezes, as relações entre as diversas ações ñ são diretas (por ex., maior duração da Liga = desenvolvimento técnico). As avaliações têm q ser mais amplas, para ñ ficarmos apenas enumerando ações q, na prática, acabam ñ representando um avanço real.
    Volto a manifestar minha esperança de q os projetos em andamento mudem a cara do polo brasileiro à médio e longo prazo, só q as Olimpíadas no Rio serão daqui a menos de 4 anos. Por isso, nesse momento, sou a favor de uma seleção permanente. Essa oportunidade de termos uma Olimpíada em casa é única, e mais do q um jogo de dados do tipo banco imobiliário, eu vejo como uma partida de pôquer, e minha sugestão é “all in”! Vamos trazer o Felipe, o Pietro, o Tony e, se possível, naturalizar um ou outro jogador nas posições mais carentes. A Espanha, q tem uma forte base técnica, recorreu a Pérez, Kiko, Felipe, Piralkov, Sziranyi nos últimos anos. A Itália, atual campeã mundial e vice-olímpica, tem A. Pérez e Premus em seu elenco atual. Vamos fazer uma seleção pra brigar por medalha e contar com a exposição q isso trará para o polo no Brasil.
    Abs.

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  3. Estou acompanhando tudo desde o início, e acho super válidas todas as colocações do Clodoaldo, Ricardo e Roberto Cabral e KiKo Perrone.
    Acho super interessante a ideia de uma liga nacional mais demorada e a criação de seleção permanente e remunerada, seja com salário ou com bolsas de alto rendimento. O Kiko tocou em pontos muito positivos e que analisando friamente podem ser implantados com dificuldades ou não.

    Mas limito minha participação em volta do que mais vivo que é o pólo aquático "aqui de cima". O reflexo do pólo aquático no Brasil (não só de hoje mas de toda sua história) se reflete na seleção brasileira que de brasileira só tem RJ/SP, salve esporádicas participações de atletas de outros estados e quando quase 100% destes já estão em clubes do eixo. Sabemos que em pelos menos 60% dos estados brasileiros, ou mais, o pólo aquático é praticado. E sabemos que com um pouquinho de chance e oportunidades nossos jogadores mostram que tem talento, não vou nem citar quem já saiu do nordeste e se deu bem por aí. Fazendo uma analogia com as devidas proporções, os irmãos Perrone fizeram o mesmo indo pra Espanha e mostraram seu valor como jogadores de alto nível, mostrando que falta de talento não é.

    Nossa ideia é que de alguma forma, nos aproximemos do alto nível do esporte no país. A Liga Nacional foi o primeiro passo, a criação da I Divisão foi segundo passo, mas creio que no adulto não resolve muita coisa, pois o mesmo acontece com nossa seleção adulta que não consegue ficar entre os TOP 10, mas a júnior consegue e joga de igual pra igual com times do TOP 5. Temos que investir na base e no Brasil inteiro, é mais fácil sair um bom jogador de 100 ou 1000 praticantes? Não me incomodo de formar jogadores e de perde-los pra clubes do sudeste, o objetivo é dar chance, a chance só vem jogando, participando de eventos quantos possíveis.

    Aqui no Norte-nordeste temos 3 eventos/ano que são um NNE Sub-21, um NNE Adulto e Interfederativo sub-18/sub-17. Treinamos de janeiro a dezembro pra jogar 3 eventos e quando nos classificamos pra Liga, temos 4 eventos. Quando dá e quando temos time, vamos pra um evento de base, como neste ano o Náutico participou do brasileiro 93 e fez ótimos jogos contra Paineiras e Pinheiros por exemplo e somente no último jogo, com o cansaço e falta de experiência em jogos de alto nível o time n conseguiu jogar, os garotos estavam exaustos. O que quero mostrar é que com NADA e bem como o KIKO falou, nós técnicos, por nossa conta, desenvolvemos formas de captar recursos e de auto-reciclarmos enquanto profissionais e fazer a coisa toda acontecer. E acima de tudo amamos esse esporte.

    Então sugiro que a nossa base, tenha um olhar mais especial na ótica de todos, seja clubes, federações, CBDA e os próprios atletas. A CBDA deveria voltar a realizar Clínica de Novos Talentos que só aconteceu uma vez, Clínica para Técnicos e de alguma forma fazer com que nossos times joguem mais e em maior nível.

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  4. cont...

    Então sugiro que a nossa base, tenha um olhar mais especial na ótica de todos, seja clubes, federações, CBDA e os próprios atletas. A CBDA deveria voltar a realizar Clínica de Novos Talentos que só aconteceu uma vez, Clínica para Técnicos e de alguma forma fazer com que nossos times joguem mais e em maior nível.

    Sugiro novamente que o NNE adulto seja realizado junto com o SUL-CENTRO-OESTE classificando os 4 colocados pra LIGA Divisão I, pois daria chance de jogarmos com outros times. Introduzir no calendário o Norte-nordeste sub-19, pois essa categoria aqui no NNE é esquecida desde quando entrei no pólo em 2008 e existe times nessa idade. Com isso fecharia todas as categorias do sub-17 ao adulto. E de repente nossos clubes fossem mais estimulados a participarem dos eventos nacionais de base no RJ e SP. Sou contra trazer brasileiros pro Nordeste, pois forçaria todos os clubes do RJ/SP a gastarem mais por causa de um ou no máximo dois clubes do NNE.

    Em cada campeonato de base aqui no Norte-nordeste a CBDA poderia levar 2 ou 3 garotos que tenham se destacado pra passar uma semana das férias treinando pelos clubes ou com a seleção brasileira da sua idade sem compromisso, apenas com ideia de evoluir e fazer intercâmbio.

    No dia que a seleção brasileira for formada por mais de dois estados, com certeza encontraremos um novo cenário no pólo nacional. Falei isso, pq isso define bem nossa situação na minha ótica. E tem tudo a ver com os gráficos e comentários feitos pelo KIKO.

    Espero ter contribuído!

    Jefferson Lima
    Técnico do Náutico Atlético Cearense

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  5. Clodoaldo o que você colocou no final sobre repatriar e naturalizar jogadores já está sendo planejado para breve execução e aliás é uma decisão presidencial. O que estamos procurando fazer ( o que é uma visão do COB) é trabalhar de forma convergente os demais jogadores da seleção ( aí sim permanente), com atletas que tenham potencial esportivo e comprometimento integral com o esporte até 2016, e se possível, ainda, que possam contribuir para o outro ciclo olímpico. Tenho a certeza de que a Comissão técnica trabalhará nesse sentido e que para o Cíclo Olímpico 2013-2016, escolherá os jogadores (as) com esse perfil.
    Hoje saiu no Globo uma matéria interessante que pode servir de "cartão amarelo"para o polo aquático pós-2016. A Agencia de Esportes da Gran-Bretanha (UK Sports) divulgou os valores que serão investidos no p'roximo ciclo olímpico. Modalidades como Volei, Handball, Lutas ( o polo não foi citado mas deve estar dentro) entre outras que não mostraram um desenvolvimento (resultado) satisfatório NÃO receberam verba . Só o ciclismo receberá da UK Sports 280 milhões de reais em 04 anos!.
    Como Gerente de Polo já participai recentemente de algumas reuniões no COB ( DEPTO Técnico) e já se levantou a possibilidade das modalidades que em 4 anos não mostrarem desenvolvimento de não receberem mais verbas após 2016.
    A única vantagem que temos no Brasil é que o COB ao fazer a avaliação final não levará em consideração, apenas, medalhas obtidas. Daí a necessidade ( na qual tenho escrito) de se trabalhar o polo como um todo. Temos, sim, que após divulgada nossa Missão, nossos objetivos, nossas metas quantitativas e qualitativas, consigamos atingí-las e para isso o Planejamento Estratégico com suas ações passa a ser fundamental. Caso contrário após 2016........
    Abraços
    Ricardo Cabral
    Ricardo Cabral

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