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Super Final: mais um evento isolado? (2)

Como é um assunto importante e que diz respeito a toda comunidade aquapolista, aproveitamos os comentários da postagem anterior para tentar avançar um pouco mais nessa discussão. De imediato, reiteremos que o nosso intuito não é polemizar, mas tentar avançar nos argumentos e nas perspectivas que há anos dominam os debates sobre o polo aquático brasileiro. Dessa forma, gostaríamos de voltar a tocar no assunto da pouca eficácia de eventos isolados num possível crescimento do polo brasileiro.
Na nossa visão, é possível fazer uma analogia entre o desenvolvimento do polo aquático no Brasil e uma formação profissional universitária. Para se tornar um bom profissional na área escolhida, não basta apenas frequentar as aulas e assistir algumas palestras de especialistas. Junto com isso, é preciso revisar todos os dias a matéria dada, ler os textos propostos para as próximas aulas, fazer os trabalhos designados, estudar para as provas e, a partir de um determinado momento, fazer estágio. Tudo isso requer um planejamento pessoal que possibilite um melhor aproveitamento do tempo e dos recursos. Da mesma forma, para o polo aquático brasileiro crescer, não basta participar uma ou duas vezes por ano de eventos internacionais, ou mesmo promover campeonatos mais longos, é preciso que os atletas treinem pelo menos duas vezes por dia, com sessões tanto fora quanto dentro d’água, aonde fundamentos técnicos e táticos, e valências físicas tais como resistência, velocidade, força e explosão sejam aprimoradas. Tal desenvolvimento exige uma dedicação extrema que, por conseguinte, só pode ser atingida através de um planejamento que possibilite o melhor aproveitamento do tempo e dos recursos. Para ilustrar nosso ponto de vista, vamos a alguns dados.
Como ressaltamos na postagem anterior, durante o período entre 2002 e 2005, o polo aquático masculino do Brasil possuía uma ótima geração de atletas, que incluía nomes tais como, “Pará”, Felipe Perrone, Mameri, Beto, “Shalom”, “Quito”, Murad, Vicente, entre outros, e teve um período de intenso intercâmbio, como podemos ver abaixo.

. em 2002, o Brasil enfrentou por 4 vezes a Itália (2 vezes no Rio e 2 em Siracusa); 4 vezes a Espanha (2 no Rio e 2 em Almeria); 4 vezes a Grécia (2 vezes no Rio e 2 em Patras). Todos esses 12 jogos pela Liga Mundial.
. em 2003, nossa Seleção enfrentou em São Paulo as seleções da Itália, Holanda e Grécia pela Liga Mundial, e em Barcelona, pelo Campeonato Mundial, as seleções da Espanha, Eslováquia, Rússia, China e Canadá (detalhe: ganhamos de China e Canadá).
. no início de 2004 tivemos no Rio de Janeiro o Pré-Olímpico Mundial, quando o Brasil teve a oportunidade de jogar contra a Rússia, Eslováquia, Holanda, Polônia e Canadá (detalhe: vencemos a Polônia e Canadá). Depois, a Seleção passou 30 dias na Europa para a disputa da Liga Mundial (na postagem anterior havíamos dito que foi em 2005, mas, na verdade, foi em 2004), enfrentando por 4 vezes a Espanha (2 vezes em Mallorca e 2 em Portugalete); 4 vezes a Itália (2 vezes em Gênova e 2 em Siracusa); e 4 vezes a Grécia (todas em Syros).
. em 2005, o Brasil participou do Pré-Mundial, no México, e depois foi novamente para a Europa para a disputa da Liga Mundial, jogando contra a Romênia, Croácia e Itália, em Belgrado, na Sérvia; e contra a Alemanha, EUA e Sérvia & Montenegro, em Stuttgart, na Alemanha.
. durante esse período, o polo teve uma grande exibição na mídia, em particular na TV. Em 2002, os jogos da Liga Mundial no Brasil passaram na TV aberta (Bandeirantes). Em 2003, o SporTV transmitiu as partidas da Liga Mundial em São Paulo. Já em 2004, o SporTV transmitiu 24 dos 37 jogos do Pré-Olímpico, com o SporTV 2 reprisando-os com um intervalo de 6 horas.

Vale lembrar que, como dito antes, não foi apenas a oportunidade de jogar contra todas essas seleções, mas, também, de treinar diversas vezes com esses adversários. Portanto, como vimos, não faltou intercâmbio, nem exposição na mídia. Agora, gostaríamos que alguém apontasse qual crescimento o polo brasileiro vivenciou desde então, seja em nível internacional, seja no cenário nacional.
Voltamos a afirmar, não nos interessa aqui polemizar, nem desencadear uma caça às bruxas, mas sim tentar avançar nos argumentos e nas propostas. Para deixar claro o que queremos dizer com avançar nos argumentos e propostas, seguem algumas declarações do presidente da CBDA, sr. Coaracy Nunes, sobre o polo aquático, nos últimos anos (os grifos são nossos)

“Eu estou escutando muitos boatos sobre o Rochinha e o Tony Estellar, por enquanto foram apenas contatos. São ótimos nomes, mas ainda não dispensei ninguém ou contratei alguém. O certo é que farei mudanças no pólo aquático, porque considero difícil, mas não impossível vencer os Estados Unidos no masculino. Apenas quando eu tiver os recursos, vou anunciar os nomes e as mudanças que pretendo fazer em toda a estrutura, mas espero fazer em breve, no máximo na segunda semana de fevereiro"
"Eu agilizei em tempo recorde o passaporte do Sottani. Tenho que agradecer ao ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, que se empenhou pessoalmente. Acho que com a vinda dele, o Kiko se motivará, porque vai sentir que teremos uma equipe forte e com chances de ficar com a medalha de ouro. Vou trazer todos os atletas que estão no exterior"
“Só vai ficar na Seleção, quem se comprometer até 2007. Não quero investir num atleta e ele parar seis meses depois. Claro que cada caso é um caso. Mas o apoio da CBDA dependerá desse compromisso.”
“Aliás, queria dar parabéns ao Pagura que fez uma palestra muito elogiada no Comitê de Pólo Aquático, em Impéria. Posso garantir que o pólo aquático será uma prioridade nesse ciclo olímpico.”
(poloaquatico.com.br janeiro 2005)

Eu acho que o Pólo Aquático tem tido da Confederação, nos últimos anos, o mesmo tratamento que a Natação.
“Se você verificar o calendário da CBDA, antes da nossa estada aqui, só existia Rio e São Paulo. Hoje em dia tem Pólo Aquático em Brasília, em Pernambuco, na Paraíba, tem um Campeonato Norte-Nordeste de Pólo Aquático. Tudo isso foi criado por nós. Por quê? Se você não descentralizar os campeonatos de Pólo Aquático, você não consegue disseminar o Pólo Aquático pelo Brasil. Então hoje, por exemplo, tem Pólo Aquático em Belém do Pará. Nós temos feito esses campeonatos. Em cada campeonato que a Confederação faz fora do eixo Rio-São Paulo, ela planta uma semente naquele estado para a promoção do Pólo Aquático.”
“Depois do Pan, nós já temos que prever os Jogos Olímpicos de 2008. Nós pretendemos continuar o trabalho que viemos fazendo com o Pólo Aquático; participando de torneios internacionais, sempre visando a grande competição que vai ser a Olimpíada de 2008.
A mensagem que eu quero enviar para a comunidade do Pólo Aquático é que tenho a absoluta consciência que ninguém no Brasil apoiou mais o Pólo Aquático do que eu. Eu tenho absoluta certeza disso. Você está vendo aqui uma fotografia do Master de Pólo Aquático (mostrando uma foto na parede), que eu apoiei também, foi para a Europa. Me mandaram uma placa maravilhosa. Nós apoiamos o Pólo Aquático tanto no Master como nas competições, como nos clubes. O Pólo Aquático é um grande esporte, é um dos carros-chefes da Confederação. Eu tenho pelo Pólo Aquático o maior apreço. Espero que no futuro o Pólo Aquático venha a ter o seu lugar, que é dele, que é ser um dos esportes mais populares do Brasil.”
(waterpoloflu.blogspot.com abril 2007)

“A confederação pretende apresentar uma lei para ter mais recursos. Neste ano, vamos nos dedicar ao pólo aquático. Teremos um centro de referência no Pacaembu, fechamos um acordo com o Vasco e ainda temos o Julio Delamare. Queremos que tenha a mesma divulgação que a natação.
(globo.com setembro 2008)

Bauru vai ser uma referência no polo aquático no Brasil. Isso é um compromisso que assumi com os empresários que estão a frente deste projeto. As condições que eles estão oferecendo são ótimas para os treinamentos de nossas seleções de polo aquático.”
Vou realizar no ano que vem aqui em Bauru campeonatos nacionais de polo aquático.
“Em relação ao polo aquático, faz muito tempo que não vamos a uma olimpíada. O objetivo da Confederação é a classificação para Londres. Contratamos um técnico croata, caro, mas vale a pena. Ele trabalha muito e era o que precisávamos. O que nos faltava era a preparação física, treinamento, e ele está fazendo isso.
É o maior projeto de polo aquático da história. E aí você me pergunta, por que não fizemos antes? Não fizemos, pois não tínhamos grandes patrocinadores antigamente. Hoje temos os Correios e o Bradesco, que nos dá R$ 5 milhões e meio anuais. Quero afirmar que hoje podemos fazer todo este investimento, toda esta programação e saiba que o polo aquático hoje é esporte de prioridade na CBDA. Temos hoje uma juventude muito boa surgindo. Daqui a quatro cinco anos, teremos uma grande equipe de Polo Aquático para disputar a Olimpíada no Brasil.
(jornadaesportiva.com.br junho 2011)

Comentários

  1. Gostaria apenas de comentar aqui nesse novo post que, qualquer mudança que ocorra tem que ter o comprometimento dos atletas, pois caso contrário nada mudará. Por falar nisso, fiquei sabendo que existem atletas que estão ganhando mais de R$ 6mil por mês e ainda fazem cara feia pra treino duas vezes por dia. É bom lembrar que existem outras profissões que o cara já trabalha há mais de 10 anos, 8 horas por dia (faça sol ou chova) e não ganha isso.

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  2. Gostaria de fazer uma simples pergunta. O melhor jogador de Polo Aquático Brasileiro, que esta em atividade no momento no Brasil, em sua opinião seja lá quem for ele teria vaga numa destas seleções listadas abaixo?
    Hungria, Sérvia, Croácia, Monte Negro, Macedônia, Espanha. Itália, Alemanha, Grécia, Rússia, Romênia, Estados Unidos, Austrália, Holanda, Eslováquia.
    Pois se a CBDA, pensar que o melhor jogador brasileiro não tem vaga em nenhuma destas quinze seleções listas acima. È bom pensar em naturalizar alguns jogadores. Apenas para lembrar que das quinze citadas, nove destas estarão no Rio em 2016. Este pensamento também é valido para o Polo Aquático feminino.
    Jorge Bandeira

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  3. O que eu vejo é uma espiral de problemas. Os atletas não precisam treinar muito para conseguir jogar por que o campeonato é fraco. O campeonato é fraco então os melhores não precisam treinar muito para jogar.
    Com isso se chega a solução adotada hoje para ser campeão é trazer o melhor gringo possível que se adapte a necessidade da equipe.

    Discordo do Jorge na questão de naturalizar uns jogadores para a 2016. Por que faz uma "boa" participação na olimpíada e ai? Uma vez que depois de 2016 existe a de 2020 e vai voltar para a situação atual?

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  4. Clodoaldo vejo que a situação colocada gerou uma série de colocações que se no final formos bem avalia-las vamos chegar a um denominador comum: A estrutura do polo aquático brasileiro.
    Quando falo em estrutura, estão relacionados todos os envolvidos diretos e indiretos que tem interesse no esporte, sejam elas instituições organizadoras do esporte ( COB, CBDA, Federações, clubes, associações), governos,pessoas ( técnicos, atletas, pais, ...), mídia, patrocinadores. Definir o papel de cada um por si só já é um problema, princialmente, a área de atuação e responsabilidades. Hoje, na realidade do polo atual, o andar mais alto (CBDA) acaba por ser responsabilizada por tudo, ou quase tudo. Por vezes leio e escuto que a CBDA tinha que massificar o esporte no país. Veja bem, num país onde quase não se tem piscinas ( comparado com o contingente populacional) e onde as condições de acesso são bem limitadas (ou elitistas) e o esporte de uma maneira geral não é oportunizado, o que deveria ser uma política pública. Quando se discute a questão dos atletas treinarem e se dedicarem mais, remete-se o foco da discussão que os atletas deveriam ficar a disposição da CBDA para que tenham mais condições de treino, tirando a responsabilidade ( e a competência) dos próprios clubes e da motivação principal do atleta que que a melhora individual independente de qualquer coisa. Quando o Clodoaldo fala que em Ligas Mundiais passadas tivemos mais jogos com equipes de nível, esquecemos de colocar que a FINA ao mudar a forma de disputa regionalizando as etapas classificatórias ( não sei porque motivo) tirou essa posibilidade maior de intercâmbio, o que levou o Brasil abrir mão da participação ( o que requer verba alta de inscrição) em alguns anos. Quando se faz uma Liga oferecendo a oportunidade de participação a todos, muitos clubes não conseguem manter seu elenco treinando por dois meses seguidos o que leva a um nível técnico que conhecemos. E por aí vai. O que faço questão de reforçar é que estamos na reta final de 2016 e não podemos perder a oprtunidade de projetar um pouco mais o polo aquático no País. Para isso necessitamos, ainda, trabalhar para fortalecer as nossas competições tendo nos clubes que, ainda, apoiam o polo como principal parceiro e trabalhar de forma paralela a seleção ( com mais investimento e planejamento) e maior comprometimento dos atletas ( não é só receber dinheiro é vontade de querer ser) para termos uma boa apresentação (digna) nos Jogos do Rio.
    Estamos no mesmo barco e talvez seja um bom momento para remar na mesma direção. Os debates em bom nível são um bom caminho, onde tenham certeza de que as opiniões são sempre apreciadas. Não sou pessimista muito pelo contrário sou muito otimista. Entretanto, sendo realista e antecipando o que pode acontecer após 2016, os esportes que não se solidificarem ( não é resultado!!) dificilmente terão investimentos públicos, o que pensar de recursos privados. Temos que pensar nisso e unir forças para permanecer no jogo.
    Att
    Ricardo Cabral

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  5. Perfeito, Cabral. Vc tocou no ponto chave, a questão da estrutura. Já foi dito diversas vezes aqui q o maior problema do esporte brasileiro é o fato de q ñ temos (nem nunca tivemos) uma política esportiva. Ñ tenho dúvidas q esse é o principal entrave para a transformação do Brasil em uma potência esportiva. Mas isso ñ isenta a CBDA de tentar melhorar esse quadro dentro de suas possibilidades (q, diga-se de passagem, ñ são poucas, dada a autonomia da instituição). Pra começar, ñ dá para continuar apostando num modelo de gestão em q tudo, até mesmo a compra de raias, tenha q passar pelas mãos de uma única pessoa (como disse antes, qq empresa atual q adote esse modelo vai acabar falindo em menos de 1 ano). Com relação exclusivamente ao polo, ñ dá para o esporte continuar sendo administrado como um patrimônio pessoal ou mero instrumento político. Só pra dar um exemplo bem simples: em qq esporte, cabe ao treinador designado para dirigir a Seleção a escolha do seu auxiliar, isso é o passo mais básico de todos, contudo, na CBDA, é o presidente quem escolhe toda a CT, numa dança das cadeiras em q o q menos importa é o rendimento da Seleção, e sim as "necessidades políticas". No ano passado, a CT das Seleções foram arbitrariamente alteradas 3 vezes em menos de 1 semana. Esse ano, há duas semanas de se fechar um ciclo (a participação da Seleção Masculina na Liga Mundial) foi alterada novamente, apesar dos elogios do próprio presidente ao trabalho da CT (vide citação na atual postagem e o relatório do final de 2011, disponívl no site da CBDA). Outro detalhe, ao contrário da apresentação do técnico Goran Sablic em 2010, feita com pompa e circunstância, até hj a CBDA ñ emitiu um comunicado explicando o pq da mudança. Essas são pequenas coisas, pequenas atitudes, q independem do Governo Federal, do COB ou da FINA, elas dizem respeito apenas ao modelo de gestão da CBDA q, por sinal, nunca é colocado em discussão. A estrutura geral do esporte no Brasil é muito falha, mas as estruturas das confederações tb o são, apesar delas terem autonomia para certas mudanças. O vôlei, para crescer, abriu mão dos clubes tradicionais, q tb dominavam o cenário, e criou uma nova realidade. Talvez, a principal pergunta a ser feita, seja a colocada no comentário do sr. Jorge Bandeira, quem realmente quer q o polo cresça no Brasil?
    Abs.

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