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Super Final: mais um evento isolado?


Encerrada a participação do Brasil na Super Final da Liga Mundial 2012 masculina, o resultado foi o esperado: 6 derrotas em seis jogos, com algumas goleadas elásticas (Croácia 20 x 3; Itália 14 x 1; Austrália 13 x 2). De imediato, são renovados os pedidos por mais intercâmbio internacional.
Concordamos com nossos amigos que pedem mais rodagem internacional para a Seleção, pois, sem dúvida, disputar jogos contra equipes do 1º e do 2º escalão é fundamental para o polo aquático brasileiro crescer. Mas existe uma situação prévia que, se não for resolvida, praticamente anula a eficácia do intercâmbio, qual seja, a mudança da filosofia e da rotina de treinos dos atletas.
Para que essa mudança seja possível é necessário, em primeiro lugar, que se defina um modelo de desenvolvimento para o polo brasileiro. Temos, a rigor, duas opções: fortalecer os clubes, para que eles sejam o manancial da Seleção, ou optar pela formação de uma Seleção permanente. No caso de se escolher a opção de clubes fortes, o papel da CBDA é o de fornecer um calendário que proporcione aos clubes de oito a 9 meses de atividade por ano. Não dá, por exemplo, para o primeiro torneio nacional acontecer apenas na metade do ano. Porém, nessa opção, essa não é a principal questão, e sim a disponibilidade dos clubes em realmente se profissionalizarem, quer dizer, de oferecerem aos atletas não apenas uma ajuda de custo, mas uma remuneração que permita que se dediquem entre 6 a 8 horas por dia ao polo aquático. Não é necessário que sejam muitos clubes, quatro clubes verdadeiramente profissionais já alavancariam o polo brasileiro (na Sérvia e em Montenegro, por exemplo, são 3 ou 4 clubes, no máximo, que sustentam o polo daqueles países). O problema, voltamos a insistir, é saber se existem no Brasil esses 3 ou 4 clubes com condições de promover essa passagem para o profissionalismo, afinal, todos conhecemos as dificuldades que os esportes amadores enfrentam dentro de seus clubes. De nada adianta ter um calendário extenso se os atletas não tem como treinar adequadamente. A Liga Nacional de 2010 foi um bom exemplo, ela começou em setembro e terminou em dezembro (quatro meses), mas o nível dos jogos foi fraquíssimo, pois as equipes estavam claramente destreinadas.
A segunda opção seria a formação de uma Seleção permanente, com a CBDA estabelecendo uma remuneração compatível com o mercado de trabalho e um contrato de direitos e deveres, permitindo, com isso, que os atletas fiquem inteiramente dedicados à Seleção (podendo ser “emprestados” aos clubes nas competições nacionais). Nessa opção, abre-se inclusive a possibilidade de se recrutar atletas estrangeiros para posições em que somos mais carentes (Alejandro Idarraga para o centro, por exemplo), prática, aliás, usada com bastante frequência por seleções europeias (nessa Super Final da Liga Mundial, a Espanha tinha 3 “estrangeiros” e a Itália quatro).
De qualquer forma, seja qual for a opção escolhida, ela tem que proporcionar ao atleta a possibilidade da dedicação exclusiva ao polo aquático, do contrário, a participação em torneios internacionais vai continuar se caracterizando como situações pontuais que, no final das contas, não acrescentam nada no desenvolvimento do polo brasileiro, uma vez que, com a estrutura atual, a seleção começa sempre do zero em todas as competições, não acumulando nem mesmo a tão sonhada “experiência”. Só para exemplificar, no início desse ano tivemos uma competição que vem ao encontro de todas as demandas por intercâmbio, o Pan Pacs. Nele, o Brasil teve a oportunidade de enfrentar equipes que têm um nível similar ao nosso (Japão, China, Austrália “B”), assim como seleções do 1º escalão (EUA e Austrália). Mas o Brasil, por falta de um modelo de desenvolvimento e, consequentemente, de um planejamento, foi com uma equipe desfalcada (Marcelinho, Charuto, Henrique, Emílio e Gabriel não puderam ir), sem ter realizado nem um treino conjunto sequer. De que adiantou a participação brasileira no Pan Pacs em termos de crescimento do polo brasileiro? Nada! Foi mais um evento pontual, isolado, que não fez parte de nenhum processo de crescimento gradual (o Feminino, então, nem se fala, foi com uma equipe recheada de atletas 95 para enfrentar as seleções principais dos EUA, Austrália e Canadá). Voltando um pouco mais no tempo, entre 2002 e 2005, a Seleção Brasileira, com uma ótima geração de atletas, teve um período de intercâmbio intenso. Em 2002 e 2003, várias seleções de primeiro nível estiveram por aqui para a disputa da Liga Mundial (Espanha, Itália, Grécia, Holanda), assim como o Brasil foi à Europa enfrentá-las (em 2005, a seleção passou 30 dias na Europa para a disputa da Liga Mundial). Em 2004, tivemos no Rio de Janeiro o Pré-Olímpico, mais uma vez com a presença de seleções fortíssimas (Croácia, Rússia, Alemanha, Romênia, Eslováquia). Em todas essas oportunidades, o Brasil não apenas jogou contra, como teve a chance de treinar com essas seleções. E o que o polo brasileiro conseguiu de crescimento nesse período? Nada! Nossa situação no polo aquático mundial não mudou em nada, pois, de novo, se trataram apenas de eventos pontuais, sem uma política de desenvolvimento por trás para colher os benefícios (isso sem falar da ampla exposição na mídia, outra reivindicação sempre presente e que, da mesma forma, apesar de ter sido grande nesse período, não alterou em nada a situação do polo brasileiro).
Para que o polo cresça no Brasil é preciso, primeiramente, vontade política de que esse crescimento aconteça. Não dá pra entender, por exemplo, a Taça Brasil ter sido marcada para praticamente a mesma data da Super Final da Liga Mundial. Quer dizer, o Brasil vai até os EUA para disputar o grupo Américas para quê? Qual o objetivo, qual o intuito, se a classificação que estava em disputa é considerada totalmente inesperada? Resumindo, foi sem nem ao menos saber por que estava indo. Com essa postura, vamos continuar acumulando derrotas e goleadas nos torneios internacionais, vamos continuar esperando que a tal “experiência” caia do céu, vamos continuar olhando as equipes do 1º escalão como se fossem extraterrestres. Mais uma vez, aguardamos ações.

Comentários

  1. Clodoaldo

    A questão colocada e muito complicada. De um lado o modelo de clubes como os fomentadores da prática esportiva e as principais células esportivas do país há muito tempo. Do outro lado a seleção nacional que precisa, para se desenvolver, de mais tempo de permanência dos atletas ( diria até que integralmente) para treinamentos e compromissos internacionais. No meio das duas existe, ainda, o clube-empresa que no pólo já começa a apontar com o SESI -SP. Para gerenciar isso ou optamos pelo modelo de clubes fazendo competições fortes durante boa parte do ano ( Liga Nacional de 06 meses com muita qualidade) e mantemos os jogadores na seleção em outros períodos ou optamos pelo modelo de seleção permanente onde os atletas ficam por conta da seleção e não participam de programas de clubes ( o Canadá e os EUA adotaram esse modelo mas com a vantagem de não dependerem de clubes para competições fortes. As competições universitárias e escolares cumprem esse papel). Resumindo meu caro Clodoaldo, a opção é difícil. Se perguntar para quem vive o dia a dia do clube o ideal é a primeira opção, com o argumento de que sem os clubes o polo acaba de vez. Se perguntarmos para quem vive o dia a dia da seleção, o ideal é o modelo da seleção permanente. O problema é que quem atua diretamente no polo acaba envolvido diretamente nas duas condições: Metade do corpo é clube e metade do corpo é seleção. Bater o martelo por um modelo único é muito difícil. Acreditamos, e já conversamos na CBDA com as Comissões Técnicas sobre isso é na necessidade ( digamos até obrigatoriedade) de pelo menos a partir de 2014 os jogadores ficarem a disposição integral da seleção. Precisamos preparar o terreno para isso. Com os pés no chão, temos que aproveitar os Jogos de 2016 para deixar um legado esportivo para o polo seja a nível de investimento e participação dos clubes quanto a seleção nacional.

    Ricardo G. Cabral
    Supervisor Geral de Polo Aquático CBDA

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  2. Prezado Cabral, acredito que essa indecisão de se ter um modelo é o pior. Sabemos que toda decisão é difícil, que na realidade estará sendo decidida uma linha de ação para o futuro de uma modalidade esportiva no país que não possui nenhuma política esportiva de uma maneira geral. Mas essa decisão tem que ser tomada, doa a quem doer. Errar faz parte de qualquer processo de tomada de decisão. O pior é não ter nem a oportunidade de dizer que errou, por pura omissão. Todos nós, eu estou me incluindo, tomamos decisões diariamente, seja profissionalmente, seja particularmente, e erramos e acertamos. Se erramos, procuramos nos corrigir e melhorar. Se acertamos, procuramos manter o que está certo. Não se pode mais é ficar no "vamos ver o que fazer", há 4 anos de uma Olimpíada no Brasil. Portanto, já passou da hora de se tomar uma decisão.

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  3. Eu concordo com o Emir, uma escolha por modelo tem que ser tomada. Ambos os modelos tem os seus pontos positivos e seus pontos negativos. Uma coisa é certa o modelo atual (que já dura vários anos) não funciona.
    Nos dois casos vão ter os insatisfeitos prontos para apontar cada erro do modelo. As criticas precisam ser ouvidas, avaliadas e não serem levadas para o pessoal, sejam dos técnicos sejam dos dirigentes. Acho necessária é uma atitude profissional de ambas as partes.
    Vou contar uma verdade para vocês a CBDA ou a Seleção serão criticados sempre.

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  4. Cabral, em primeiro lugar, obrigado pela sua resposta, independentemente de concordarmos ou não, vc sempre participa das discussões.
    Concordo com o Emir e o Felipe, uma decisão tem q ser tomada e, seja qual for, ñ vai conseguir agradar a todos. Mas é por isso q os cargos executivos exigem determinado perfil e são melhores remunerados do q os administrativos, para q decisões sejam tomadas.
    No fundo, sinceramente, o problema é a estrutura administrativa das Confederações (ñ apenas da CBDA), q insistem num modelo presidencialista arcaico e ultrapassado, aonde o q está prioritariamente em jogo ñ é o desenvolvimento dos esportes, mas a manutenção dos poderes e privilégios. O estabelecimento de uma política esportiva e de um modelo de desenvolvimento é um assunto secundário, afinal, de tempos em tempos sempre aparece um R. Prado, um G. Borges, um C. Cielo, sem q se precise fazer muito esforço. Qq empresa q fosse administrada como a CBDA já teria falido há muito tempo, mas como as Confederações ñ precisam produzir, apenas captar recursos (a maioria através de incentivos fiscais), esse modelo tem se perpetuado. Nos últimos anos temos assistido mudanças em muitas áreas no Brasil mas parece q a política esportiva está lá no fim da fila.

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    1. Ainda há uma terceira opção que é seguir pelo menos parcialmente o modelo adotado pela Inglaterra, importar jogadores para participarem das Ligas Européias, ganhando experiência, amadurecimento e reconhecimento nos Campeonatos Europeus. Por fim há sempre a possibilidade, infeliz na minha opinião de importar/nacionalizar jogadores.
      Peço também que esta conversa seja levada ao Polo Feminino.
      Ruy Araujo

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  5. Prezados Emir, Felipe e Clodoaldo. É claro que temos que tomar uma decisão. Entretanto, não podemos radicaliza-la. Aliás, poder até podemos, mas não devemos. A idéia é aproveitar o momento da Rio 2016 e trabalhar nas duas frentes. Hoje, já estamos trabalhando para 2012 com uma Liga Nacional mais forte que é o desejo dos clubes, com um apoio da CBDA aos clubes participantes para melhora do nível técnico ( serão anunciadas ações em breve) já elaborando estratégias para seu fortalecimento máximo até 2014. Na linha de raciocínio do Clodoaldo, já limitamos a participação em 06 equipes para aumentar a competitividade ( é claro que cortamos na pele e já existem reclamações quanto ao modelo). Por outro lado estamos aumentando o número de ações das seleções nacionais. Discordo parcialmente do Clodoaldo quanto ações isoladas. Elas podem ser isoladas, sim, se pensarmos apenas na continuidade. Entretanto, ninguém pode afirmar que uma ida a Austrália em Janeiro ou, agora, uma Superfinal não trouxe experiência para um grupo de jogadores novos que serão a base de 2016. Mais uma vez eu discordo e acrescento que nesse primeiro momento, nossa melhora deve ser muito mais técnica do que coletiva. O fato de alguns mais rodados não terem participado não significa necessariamente algo ruim. Pelo contrário, precisamos observar em 2012 e 2013 um número considerável de jogadores. Muitos não perceberam mas a própria taça Brasil e agora, a liga em 2012 oferecem uma bagagem internacional muito boa para os jogadores de seleção quanto enfrentam adversários de um nível muito bom. Como coloquei acima, a partir de 2014 não tem jeito. Temos que trabalhar a seleção full time. Mas até lá já esperamos que os clubes e as competições nacionais já estejam mais fortes e sedimentadas em um novo modelo. Resumindo, me parece aquela história do pai que tem dois filhos e pouco dinheiro para alimentá-los. Uma opção seria dar muita comida para um para ele crescer forte e sadio, sacrificando o outro. Outra opção seria dividir o pouco que tem entre os dois para dar chance dos dois crescerem mesmo sabendo em princípio que ambos, de imediato não terão chances de crescer fortes e sadios como desejamos. Já estamos classificados para 2016 e isso é o que interessa. Temos que trabalhar o polo nas duas frentes: Uma que dê a possibilidade de torná-lo sustentável após 2016. Para isso precisamos crescer internamente e melhorar o desempenho ( que com certeza vamos melhorar) nos Jogos do Rio.
    Abraços
    Ricardo Cabral
    supervisor de Polo Aquático CBDA

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  6. Clodoaldo
    Só para complementar( informar). O Brasil recebeu o convite para o Pan Pacs da Federação Australiana em meados de Novembro de 2011 para uma competição na Austrália ( altíssima temporada) em Janeiro de 2012. É claro que não tinhamos isso em nosso planejamento. mas por enteder a importancia de um evento que atendesse às nossas demandas, foi conseguido uma verba extra ( que não foi pouca, 34 pessoas para Perth em Janeiro) para que pudessemos dar mais essa oportunidade aos atletas. alguns já tinham compromissos agendados e foi dados essa opção de participação, pensando também em aproveitar a oportunidade para outros.
    Abraços
    Ricardo Cabral

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  7. Antes de tudo tenho certeza que não sou o dono da verdade. Sei também e concordo com o Felipe, que sempre vamos reclamar da CBDA ou da Seleção. Mas faço algumas observações:
    O Polo Aquático brasileiro esta pronto para ser um esporte profissional?
    Interessa aos jogadores serem profissionais? E por tanto serem cobrados como tais?
    Interessa aos técnicos serem somente profissionais de Polo Aquático?
    Interessa aos dirigentes que a estrutura do Polo Aquático seja profissional?
    Vamos por parte. Todos os jogadores que atuam na Seleção Brasileira recebem de três fontes de pagamentos, Bolsa atleta internacional CBDA paga por competição disputada, salário do clube e também tem direito a plano de saúde. Somando tudo isso é muito mais do que se paga a um profissional em inicio de carreia.
    Todos os treinadores têm pelo menos mais dois empregos alem do técnico de Polo Aquático. Já sei que vão dizer que somente o salário do Polo Aquático não da para viver. Mas também sei que o salário pago nos clubes é o maior rendimento que esses treinadores recebem.
    Não interessa a CBDA, federações e os clubes, que nada seja mudado, pois desta forma se perpetua a forma de poder.
    Resumindo a historia, do jeito que esta é boa para todos. Acho muito difícil quebrar esta corrente. Os atletas, técnicos e dirigentes não irão permitir nenhuma forma de perda de suas vantagens.
    Jorge Bandeira

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